Ugandenses matam cegonhas migratórias em desespero por comida 24/04/2025

A escassez de alimentos fez com que as cegonhas brancas e outras aves migratórias se tornassem presas dos seres humanos (Badru Katumba)Badru Katumba/AFP/AFP

Por AFP - Agence France Presse

Ugandenses matam cegonhas migratórias em desespero por comida

Ugandenses desesperados estão usando veneno para matar milhares de cegonhas brancas migratórias e outras aves protegidas porque têm poucas fontes de alimento.

Em Ayoreri, um vilarejo na fronteira com o Quênia, Sam Chekwoi, 42 anos, disse que as chuvas imprevisíveis e as secas têm dificultado cada vez mais a alimentação de suas duas esposas e 11 filhos.

“Eu costumava cultivar, mas o sol destruía minhas plantações de alimentos. Foi então que decidi começar a capturar esses pássaros para fornecer alimento para mim e para meus filhos”, disse ele.

Ele mostrou à AFP como os moradores locais caçam suas presas.

Primeiro, eles pegam um rato e o matam, depois colocam uma mistura de álcool e veneno de rato em sua boca e o deixam no campo para que um pássaro o veja.

Os pássaros voam para baixo e rapidamente sentem o impacto do veneno. Eles tentam voar para longe, mas não conseguem ir muito longe, e os moradores os perseguem para terminar a matança.

“Quando os pássaros comem a armadilha, eles ficam fracos, nós os pegamos, matamos e depois os comemos”, disse Chekwoi.

Ele calcula que já comeu mais de 300 cegonhas desde que se mudou para a região em 2016.

“Se houvesse uma alternativa, eu não faria isso”, disse Chekwoi.

A atividade pode acarretar multas pesadas, mas os moradores locais acham que não têm escolha.

- 'Única fonte de proteína'

Joel Cherop, 45 anos, fazendeiro e conservacionista, cresceu na área e está tentando desencorajar a prática.

Ele estima que cerca de 3.000 cegonhas brancas tenham sido comidas pelos moradores desde o início do ano, quando começou a temporada de migração.

Cherop descreveu as aves como a “única fonte de proteína” para muitos moradores da região. Eles podem vender uma cegonha por cerca de 2.000 xelins ou menos de um dólar, disse ele.

Ele tem monitorado as aves ao longo dos anos e sabe, por meio de etiquetas, que algumas vieram da Polônia, da República Tcheca e da Hungria.

Embora as comunidades nômades da região tenham degradado a terra cortando muitas árvores para fazer carvão, Cherop compreende suas dificuldades, especialmente a piora das secas.

“Não há dúvida de que a quebra de safra está no topo da agenda dessa comunidade nos últimos 10 anos”, disse ele à AFP.

É particularmente injusto, disse ele, pensar que a mudança climática é o resultado de práticas industriais em outras partes do mundo - “as Américas, as Rússias e as Chinas que estão emitindo bilhões de (toneladas de) carbono”.

Cherop começou a plantar milhares de árvores frutíferas ao redor de sua fazenda em uma tentativa de regenerar a terra e está empregando o máximo de moradores locais que pode com seus recursos limitados.

Ele diz que os moradores locais estão simplesmente tentando sobreviver.

“São jovens famintos que não têm comida, então encontraram uma alternativa nas aves migratórias”, disse ele.

er/phz