Por AFP - Agence France Presse
Trump esfria o setor de energia eólica dos EUA
Charlotte CAUSIT
Washington, 26 de janeiro de 2025
Há muito tempo Donald Trump tem se manifestado abertamente contra a energia eólica - alegando que as turbinas são feias, perigosas para a vida selvagem e muito caras - e ele está ameaçando acabar com décadas de progresso no setor poucas horas depois de assumir o cargo.
“Não vamos fazer a coisa do vento”, disse Trump na segunda-feira, quando retornou ao Salão Oval pela primeira vez em quatro anos como comandante-em-chefe.
“Moinhos de vento grandes e feios”, disse ele ao assinar uma série de ordens executivas que colocaram o setor em crise, acrescentando que ‘eles matam seus pássaros e arruínam sua bela paisagem’.
Entre as medidas estava o congelamento temporário de licenças e empréstimos federais para todos os projetos eólicos offshore e onshore.
Jason Grumet, presidente da American Clean Power Association (ACP), rapidamente criticou a medida, dizendo que ela “aumenta as barreiras burocráticas, minando o desenvolvimento da energia doméstica e prejudicando as empresas e os trabalhadores americanos”.
Após os anúncios, as ações de energia eólica caíram no vermelho.
“Isso teve um efeito de resfriamento real no setor”, disse à AFP Elizabeth Wilson, especialista em energia eólica offshore da Universidade de Dartmouth.
Os desenvolvedores, preocupados com os conflitos, já estão “desistindo de alguns desses projetos”, disse ela.
Ao declarar uma “emergência energética nacional”, alguns observadores notaram uma contradição no ataque de Trump à energia eólica.
Embora não seja tão robusta quanto na Europa, a energia eólica em 2023 foi responsável por cerca de 10% da produção de eletricidade dos EUA, mais do que o dobro da energia solar.
A energia eólica onshore também é relativamente barata, de acordo com especialistas, com o preço por megawatt-hora variando de US$ 27 a US$ 73 em 2024, muito menos do que a nuclear ou o carvão, embora as taxas possam flutuar no futuro.
Ember, um think tank de energia, alertou na quinta-feira que os Estados Unidos “correm o risco de serem deixados para trás na revolução industrial limpa”, já que as principais economias, como a China, estão cada vez mais “adotando o vento como fonte de eletricidade barata e limpa”.
Ainda não se sabe quais serão os efeitos de longo prazo das ações de Trump sobre o setor, que já enfrentou dificuldades nos Estados Unidos nos últimos anos devido ao aumento dos custos resultante da inflação e das taxas de juros, bem como à crescente oposição local aos projetos.
O setor de energia eólica offshore, ainda em sua infância nos Estados Unidos, provavelmente será o mais atingido, de acordo com Wilson, já que a maioria das áreas marinhas exploráveis está em águas federais sujeitas às medidas de Trump.
No entanto, “a maior parte do desenvolvimento em terra acontece em terras privadas, onde o governo federal não tem realmente nenhum controle”, acrescentou.
- 'Não quero que nem mesmo uma seja construída'
Dias antes de assumir o cargo, Trump escreveu em sua plataforma de mídia social Truth: “Não quero que nem mesmo um (moinho de vento) seja construído durante meu governo”.
Essa promessa assustou seriamente o setor, que teme que ele possa bloquear permanentemente os subsídios ou as aprovações ambientais necessárias para determinados projetos.
Tais medidas provavelmente seriam contestadas nos tribunais e provocariam uma reação política negativa.
“Noventa e nove por cento dos projetos eólicos onshore estão em terras privadas, e os proprietários de terras privadas geralmente gostam desses parques eólicos e obtêm muitos benefícios econômicos deles”, disse Barry Solomon, professor emérito da Michigan Technological University.
Ele observou que os projetos também estão, em sua maioria, em estados liderados por republicanos, como Texas, Oklahoma, Iowa, Kansas e Dakotas.
A ACP também alertou que a restrição do desenvolvimento eólico “aumentaria as contas de energia dos consumidores”.
Apesar dos ventos contrários, alguns especialistas continuam otimistas.
“Em última análise... a economia está impulsionando o desejo por energia eólica e solar”, disse Jeremy Firestone, professor da Universidade de Delaware.
Com a inteligência artificial, acrescentou ele, as necessidades de energia “estão aumentando muito. Portanto, haverá muita pressão para continuar a construir turbinas eólicas”.
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