![José Ribeiro palestrando](https://static.wixstatic.com/media/a63056_69d5fb976acb4699a80df4af1d3f9dec~mv2.jpeg/v1/fill/w_980,h_1398,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/a63056_69d5fb976acb4699a80df4af1d3f9dec~mv2.jpeg)
Solidariedade sem Fronteiras - Brasil e Alemanha.
Erradicação das desigualdades sociais.
Ao escrever algo sobre a participação e parceria da Alemanha com o Brasil, seja em amistosos de futebol ou mesmo na Copa do Mundo, não tem como não imaginar o casal e o grupo alemão que sempre foram prestativos, simpáticos e parceiros da Creche Pequeno Príncipe e da Organização CEMAR - Centro de Educação Integral “Margarida Pereira da Silva”, Quando ouço algo que retrata o país europeu, especificamente o país alemão, tudo está associado ao início do trabalho social da Creche Pequeno Príncipe, que começou por volta de 1976, quando eu e tantas outras crianças, adolescentes e jovens e suas famílias nascemos em um sistema de fome, miséria e grande fragilidade.
Na época em que a Creche Pequeno Príncipe foi criada, o Brasil vivia uma grande tensão em relação à infância e à adolescência, e estávamos sob o regime de uma política que negava e violava todos os direitos de nossas crianças. Nesse período, em 1975, foi criada a CPI do Menor para investigar a situação das crianças desassistidas no Brasil, contribuindo para a elaboração de um novo Código de Menores.
O Código de Menores não mudou em nada o paradigma da infância e da adolescência no Brasil; pelo contrário, trouxe grandes retrocessos no cuidado e na proteção dos direitos da criança.
Nasci em uma época em que a fome era latente em nossas panelas, e a falta de políticas públicas era notória. O senhor sabe o que é ir dormir com o estômago vazio e acordar de madrugada com a barriga roncando? Foi nesse período em que muitas crianças e famílias sertanejas viveram no passado que surgiu o trabalho de Margarida Pereira da Silva da Creche no sertão seco da Paraíba, arruinado pelo domínio das antigas oligarquias. Foi quando um grupo de pessoas chegou a Pombal, PB, preocupadas e solidárias com os países do Terceiro Mundo, e se uniram para ajudar aqueles que choravam e clamavam por um pedaço de “pão” que pudesse aliviar a fome, e foi o que aconteceu, o destino era a nossa terra de Maringá, Pombal, PB.
O trabalho foi crescendo e Margarida se tornou uma grande amiga e parceira do grupo na Alemanha, na cidade de Hochheim am Main.
Daí o surgimento desse trabalho, que continua até hoje e mudou a vida e as histórias de centenas de crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. A creche Pequeno Príncipe surgiu em um dos piores momentos do Brasil, mas também no melhor momento em que sofríamos com a ausência da família, do Estado e da sociedade. Dessa forma, já podemos vislumbrar a promulgação na década de 1990 do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 90, que em seu artigo Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Gostaria apenas de ressaltar que, bem antes da aprovação da LOAS, que foi criada em 1993 pela Lei nº 8.742, com o objetivo de promover uma política de assistência social para os brasileiros, permitindo uma vida mais digna para aqueles que não conseguem se sustentar financeiramente, a assistência social já era realizada em Pombal com o trabalho dos líderes alemães Heribert, Gerti, Dieter e Ortrud, em memória.
Fomos atendidos com muito respeito e compaixão pela Margarida e sua equipe, bem como sob o olhar atento do grupo na Alemanha, liderado por Heribert, Gerti, Dieter e Ortrud, em memória da nossa sempre Margarida Pereira, que nos deixou um grande legado.
Não canso de ressaltar que fomos preparados e forjados no contexto da luta social, na base com os núcleos de formação de base com o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, propondo artigos da lei do ECA, participando e mobilizando nas praças e comunidades para coletar assinaturas para a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, bases e treinamentos da pastoral negra ligada à Igreja Católica, reuniões e fóruns em defesa da criança e a criação dos Conselhos Setoriais, tudo isso fruto do trabalho inspirado da Junção e da solidariedade solidária da Alemanha em proporcionar às crianças e adolescentes e suas famílias de Pombal um lugar mais digno e favorável.
Quem não se lembra das inúmeras crianças que eram bem nutridas e cuidadas na creche da Margarida?
Quem não se lembra das famílias pombalenses sem escolas ou creches para cuidar e proteger seus filhos, e da Margarida estendendo a mão para receber todas elas na creche Pequeno Príncipe?
Quem não se lembra que, ao final da creche, a criança, aos 7 anos de idade, não tinha sequer uma atividade social? O grupo alemão e Margarida criaram o CEMAR para atender crianças e adolescentes de 7 a 24 anos.
Quem não se lembra de tantas famílias carregando sacolas de comida para matar a fome? Margarida e o grupo alemão dividiram com os que mais precisavam.
Quem não se lembra dos muitos adolescentes, jovens e suas famílias que hoje causaram impacto profissional e social no mercado de trabalho?
Quem não se lembra dos empregos criados em várias áreas sociais de Pombal, promovidos pela Margarida da Creche e pelo grupo da Alemanha.
Dito isso, somos e seremos sempre gratos à Alemanha pela boa parceria conosco, em especial a Heribert e Gert e a nossa eterna Margarida, que nos deixou um grande legado.
José Ribeiro da Silva - Colunista representando a comunidade QUILOMBOLA em Pombal, Paraíba, Brasil
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