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Sociedades Sustentáveis: você já ouviu falar?
Vivemos tempos de crises ambientais e sociais que exigem respostas ousadas e transformadoras. A ideia de sociedades sustentáveis (SS) emerge nesse contexto como uma alternativa mais profunda e inclusiva ao tão debatido desenvolvimento sustentável (DS). Mas qual é a diferença entre esses dois conceitos? E por que é importante repensarmos o modelo de sustentabilidade que seguimos? Será que realmente é sustentável?
Entendendo o Desenvolvimento Sustentável
Nos anos 1970, o movimento ambientalista ganhou força ao questionar as contradições do modelo desenvolvimentista, que promovia crescimento ilimitado com base em recursos naturais finitos, gerando riscos de colapso ecológico (LIMA, 1997). Com isso, em 1987, com o objetivo de conseguir alinhar a conservação ambiental com o crescimento econômico é publicado o relatório “Nosso Futuro Comum”. Neste relatório é apresentado o conceito de desenvolvimento sustentável, definido como o desenvolvimento capaz de atender às necessidades do presente sem comprometer as futuras gerações (CMMAD, 1991).
Apesar de aparentemente o desenvolvimento sustentável ser uma saída para a crise ecológica, pois trouxe grandes contribuições para a divulgação e o amadurecimento das questões socioambientais, muitos autores apontam para o fato deste manter o status quo, trazendo soluções remediadoras e imediatistas. Aponta-se que o desenvolvimento sustentável trabalha os problemas a posteriori, em vez de a priori, dando margem para a ocorrência de grandes catástrofes e crimes ambientais, em vez de evitá-los (COSTA-PINTO, 2019; FOLADORI, 2002; LIMA, 1997).
Ainda assim, vale reconhecer os impactos positivos que projetos de desenvolvimento sustentável tiveram para a nossa sociedade, sendo algumas vezes essenciais para garantirem direitos humanos. Porém, por estarem dentro da lógica desenvolvimentista neoliberal possuem limitações importantes, atuando somente sobre as consequências do problema, (fome, doenças, refugiados do clima, rompimento de barragem, entre outros) e não sobre a causa, pois não interferem nas relações de produção que geram a desigualdade (FOLADORI, 2002).
Sociedades Sustentáveis: um novo caminho
Nesse cenário, surge uma contraposição ao desenvolvimento sustentável: as sociedades sustentáveis (SS). Durante a Jornada Internacional de Educação Ambiental, realizada paralelamente à Rio-92, foi criado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (ONU, 1992). A partir desse tratado, emerge o conceito de SS na área de educação ambiental (Meira e Sato, 2005).
Conforme Costa-Pinto (2019) e Carvalho (2008), o conceito de sociedades sustentáveis reflete a preocupação com a injustiça ambiental, resultado das desigualdades geradas pelo modelo neoliberal. Nesse sistema, os grupos mais vulneráveis carregam o ônus da degradação ambiental, enquanto os mais privilegiados desfrutam do bônus dos recursos naturais.
Diferentemente do DS, as SS rejeitam o consumo alienado e o individualismo. Elas se baseiam em economia solidária, autolimitação do consumo e participação social ativa. Enquanto o DS está alinhado à uma lógica de regime de acumulação e livre mercado, as SS reconhecem a necessidade de uma transformação estrutural (Carvalho, 2008). No desenvolvimento sustentável, a cidadã e o cidadão são vistos como consumidores enquanto nas sociedades sustentáveis esses são sujeitos políticos ativos (CARVALHO, 2008).
Segundo Ferraro Júnior e Sorrentino (2011), ao contrário da ideia de um modelo único de sustentabilidade, as SS valorizam a diversidade cultural, social e ecológica. Inspiram-se em cosmovisões locais e respeitam as pluralidades dos povos. Com isso, o conceito encontra-se no plural, dado que busca a diversidade e a pluralidade; confrontando a homogeneização imposta pela modernidade (Diegues, 2003).
Vale destacar que as sociedades sustentáveis são fundamentais e necessárias, mas, enquanto avançamos em direção a esse ideal, é essencial trabalharmos lado a lado com esses dois conceitos, sendo o desenvolvimento sustentável uma ferramenta prática e acessível no momento. Busca-se, não a divisão e a polarização da sociedade, mas somar esforços, aproveitando o melhor de ambos para pavimentar a construção de sociedades verdadeiramente sustentáveis, onde igualdade e justiça sejam condições indispensáveis para tal. Mais do que garantir um ambiente melhor para futuras gerações, trata-se de garantir melhores gerações para o ambiente (FOLADORI, 2002).
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Quem escreve: Gabriela Albuquerque Lúcio da Silva @ https://www.linkedin.com/in/gals-ea/
Quer saber mais? Segue as referências:
CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Educação para sociedades sustentáveis e ambientalmente justas. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, vol. especial, dez 2008.
CMMAD – Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991.
COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. Educação ambiental, construção de sociedades sustentáveis e os afetos em Espinosa. In: ALONSO, Cláudia Pazos; RUSSO, Vincenzo; VECCHI, Roberto; ANDRÉ, Carlos Ascenso. (Org.). De oriente a ocidente: estudos da associação internacional de lusitanistas. 1 ed.Coimbra: ANGELUS NOVUS , EDITORA, v. IV, p. 07-30. 2019.
DIEGUES, Antônio Carlos Sant’Ana. Sociedades e comunidades sustentáveis. São Paulo: Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB) - USP, 2003.
FERRARO JÚNIOR, Luiz Antonio; SORRENTINO, Marcos. Imaginário político e colonialidade: desafios à avaliação qualitativa das Políticas Públicas de Educação Ambiental. Ciência & Educação, v. 17, n. 2, p. 339-352, 2011.
FOLADORI, Guillermo. Avanços e limites da sustentabilidade social. Revista Paranaense de Desenvolvimento, n° 102, jan/jun 2002.
LIMA, Gustavo. O debate da sustentabilidade na sociedade insustentável. Revista Política e Trabalho, n° 13, set 1997.
MEIRA, Pablo; SATO, Michèle. Só os peixes mortos não conseguem nadar contra a correnteza. Revista de Educação Pública, v.14, n.25, 17-31p., 2005.
ONU. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Rio de Janeiro: ONU, 1992.
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