"Quando Se Nasce Negro no Brasil" - OPINIÃO 18/04/2025
- Ana Cunha-Busch
- 17 de abr.
- 3 min de leitura

"Quando Se Nasce Negro no Brasil"
Quando se nasce negro no Brasil, carrega-se consigo o estigma extremamente perverso e nefasto pelo simples fato de ser criança negra. Isso me leva a repensar sobre a questão racial no Brasil e o quanto dói na infância, advinda de um histórico violento, estigmatizante, com vestígios da escravidão.
A humanidade não se vê ao ponto de entender e compreender ou não quer enxergar, a crueldade que fizeram e que permanece até agora, com a questão das desigualdades sociais e a perpetuação do racismo que ainda paira sobre nós.
É por isso que nascer negro no Brasil é difícil, mas não impossível de reverter o quadro de desigualdade social que nos separa neste abismo crucial e deprimente. Isso pode ser alcançado quando se reúne, medita, articula, se organiza e reverte esse estágio de alienação e opressão de um regime escravocrata que sempre lhe deixou sua alma e o seu interior à mercê da sociedade que historicamente se perpetua nas formas de dominação e no ensino reverso, imposto e praticado, colocando nossas crianças negras ainda em submissão à "casa-grande".
Convivemos em uma democracia não tão efetiva e não tão igualitária, que trata os desiguais de forma desigual. Ainda pensamos que o conceito de racismo não é tão presente no cotidiano infantil, achando que bullying é bullying e racismo é algo natural. No entanto, é fundamental entender que o bullying é um conflito entre pessoas, enquanto o racismo é uma discriminação ou preconceito contra um grupo social.
Nossas crianças negras necessitam urgentemente de uma formação didática e culturalmente específica, por meio de letramento étnico-racial, conforme previsto na Lei 10.639/2003, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É necessário e urgente que a educação transforme seu lado de pensar e faça a reparação com a história ancestral do nosso povo, para as ações afirmativas. Não dá mais para os livros didáticos e as novelas persistirem sobre os aspectos de que nós éramos escravos no passado, sem reverter esse conceito no presente para uma afirmação de que nós, na verdade, não éramos escravos e sim escravizados. Ainda o racismo estereotipado europeu branquista no Brasil consiste em manipular e estar nas mídias sociais, nas publicidades, como controle de nossas cabeças, para nos oprimir e perpetuar a ideia de que somos inferiores.
Nascer criança negra neste país, sem a noção de sua identidade e ancestralidade, e de imediato reverter essa triste realidade e pautar leituras sobre direitos, respeito, equidade, com atitudes educacionais, inclusão social familiar e comunitária, requer os esforços de todos nós e do Estado brasileiro. Quando se nasce negro no Brasil, na periferia ou em um território quilombola, é sentir o martelo do preconceito nos olhares, na recepção de uma unidade de saúde, no passeio no shopping, na abordagem policial, e o restante todos vocês já sabem.
Sim, nascemos negros neste país, precisamos reverter e lutar constantemente sobre a afirmação de sermos pretos, negros e lutar contra todas as formas de preconceito e discriminação.
Quando começamos a tratar a infância negra com amor, empatia, melhorando e apontando os equívocos que muitas vezes estão escritos nos livros didáticos, e combatendo as velhas práticas pedagógicas fixadas no seio da educação, podemos mudar essa situação.
Isso pode ser alcançado por meio da sensibilização, dialogando, propondo alternativas e caminhos para o cumprimento das leis, difundindo e fomentando o Estatuto da Igualdade Racial, a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, pautando sempre e constantemente a política de cotas nas universidades e serviços públicos.
Referendando em seminários e conferências as ações afirmativas e letramentos étnico-raciais sobre a nossa história africana, o continente que traduz beleza, encanto e riqueza ancestral. Viva a nossa história, nossa identidade e nossa ancestralidade.
José Ribeiro da Silva - Assistente Social, Militante dos Direitos Humanos.
Movimento Quilombola, Gerente Operacional de Políticas de Ações Afirmativas.
Militante do MNMMR, membro do CEMAR.





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