Por AFP - Agence France Presse
O aço no centro da nova guerra comercial de Trump
Paris (AFP) - As novas tarifas sobre o aço impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometem complicar ainda mais um setor estratégico já desestabilizado pela superprodução chinesa e pela paralisação dos altos-fornos europeus.
Recém-retornado à Casa Branca, a guerra comercial há muito prometida pelo mercurial republicano forjará uma nova frente na segunda-feira com uma tarifa esperada de 25% sobre o alumínio e o aço importados pelos Estados Unidos.
Trump impôs tarifas semelhantes durante seu primeiro mandato para proteger os produtores americanos que enfrentavam o que ele reclamava ser uma concorrência desleal.
Quem exporta aço para os EUA?
A produção global de aço atingiu 1,89 bilhão de toneladas em 2023, de acordo com os últimos números do órgão comercial World Steel.
A líder mundial China, com 1,02 bilhão de toneladas, responde por mais da metade desse total, com os Estados Unidos logo atrás, com 81 milhões.
Enquanto isso, os Estados Unidos importaram 26,4 milhões de toneladas de liga metálica em 2023, tornando-se o segundo maior mercado estrangeiro de aço, atrás apenas da União Europeia.
O Canadá está no topo da lista dos fornecedores de aço preferidos de Washington, com os Estados Unidos importando 5,95 milhões de toneladas de seu vizinho do norte em 2024, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA.
O Brasil e a UE vêm em seguida, com 4,08 milhões e 3,89 milhões de toneladas exportadas para os Estados Unidos, respectivamente, à frente do México, com 3,19 milhões, e da Coreia do Sul, com 2,5 milhões.
No entanto, a China exportou apenas cerca de 470.000 toneladas para os Estados Unidos.
Por que Trump está reclamando?
O excesso de produção global da liga fez com que os preços do aço despencassem no ano passado.
Esse excedente de aço é de cerca de meio bilhão de toneladas, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
“A maior parte vem da China, que está inundando os mercados mundiais”, disse um funcionário da indústria siderúrgica europeia à AFP, sob condição de anonimato.
Historicamente, a capacidade de produção na Europa e nos EUA era geralmente equilibrada e alinhada com as necessidades domésticas, disse a fonte.
“Mas no Sudeste Asiático (a produção) excede em muito a demanda”.
E espera-se que as novas usinas siderúrgicas planejadas na região acrescentem mais 100 milhões de toneladas de capacidade de produção - “80% das quais vêm de empresas chinesas” - além do excedente existente, acrescentaram.
Além disso, há muito tempo suspeita-se que Pequim subsidia indiretamente sua produção de aço, o que faz com que os preços caiam e coloca as tradicionais empresas europeias e norte-americanas em desvantagem.
Como resultado, a US Steel, que está sendo criticada, foi objeto de uma oferta de aquisição pela rival japonesa Nippon Steel, que foi bloqueada pelo então presidente Joe Biden.
Com os preços baixos pressionando os lucros, a ThyssenKrupp, da Alemanha, anunciou que demitirá milhares de pessoas que trabalham em seus fornos.
Por que o aço é importante?
O aço, tão importante para a segunda revolução industrial do final do século XIX e início do século XX, continua sendo um setor estratégico em todo o mundo.
Ele é a viga fundamental sobre a qual se apoiam muitos setores industriais tradicionais.
Pouco mais da metade do aço produzido em 2023 ainda era destinado à construção civil, enquanto 12% do restante era destinado aos fabricantes de automóveis.
Fabricantes de armas, ferrovias e outros setores de transporte também estão entre os principais consumidores da liga.
Mas seu uso em turbinas eólicas significa que o aço também é essencial para a transição para a energia renovável.
Ele também é necessário para construir os data centers usados para abrigar as grandes quantidades de informações essenciais para o desenvolvimento da inteligência artificial.
Existe aço verde?
O processo de fabricação, que envolve a queima de carvão para derreter o aço a partir do minério de ferro, faz com que o setor seja o maior emissor de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.
Alguns fornos de aço tentaram limitar seu impacto ambiental reciclando mais sucata, mudando para fornos elétricos ou construindo instalações de gás e hidrogênio para eliminar gradualmente o uso de carvão altamente poluente.
Na Europa, em particular, grandes somas de dinheiro foram planejadas para serem investidas na descarbonização do setor.
Mas esses investimentos foram suspensos devido à ameaça iminente de Trump de uma guerra comercial, ao excedente global e ao declínio do consumo de aço no continente.
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