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Necessidades (não tão) básicas - OPINIÃO 06/01/2025

Foto do escritor: Ana Cunha-BuschAna Cunha-Busch

Em seu discurso, Fernanda Torres dedicou o prêmio à sua mãe, Fernanda Montenegro, que competiu na mesma categoria há 25 anos - Robyn Beck / AFP

Em seu discurso, Fernanda Torres dedicou o prêmio à sua mãe, Fernanda Montenegro, que competiu na mesma categoria há 25 anos - Robyn Beck / AFP





Necessidades (não tão) básicas - OPINIÃO

Por Claudia Andrade


As necessidades básicas de um ser humano vão muito além da sobrevivência física. Não basta respirar, comer e dormir. Cada indivíduo precisa ter garantido o acesso ao que lhe permite viver com dignidade: alimentação, água potável, saúde, educação e moradia. Essas são questões que sempre me deixaram profundamente indignado, que sempre rasgaram meu coração com revolta e moldaram meu propósito de vida. Ao longo de minha carreira, dediquei minha energia a minimizar essas desigualdades, especialmente em comunidades vulneráveis. Hoje, minha luta diária pelo ODS-6, que busca garantir o acesso à água limpa e ao saneamento para todos, é um reflexo desse desejo maior: devolver a dignidade àqueles que foram privados dela. A água não é apenas vida; é saúde, esperança, um direito humano.


Mas o que é dignidade? É muito mais do que sobreviver. É viver plenamente, com a cabeça erguida, o coração alimentado e a alma inspirada. Não, não podemos nos contentar em fornecer apenas o mínimo necessário. Porque, assim como a fome do corpo exige pão, a fome da alma clama por arte, por cultura, por beleza. A arte expande nossos horizontes, nos devolve a capacidade de sonhar, de sentir, de sermos humanos. E, no entanto, no Brasil, a arte é seletiva. É um privilégio de poucos. Poucos podem se dar ao luxo de ir ao teatro, de assistir a uma peça, de entrar em um museu. É como se a cultura, como tantos outros direitos, fosse negada àqueles que mais precisam dela.


E essa exclusão não para nas fronteiras. Lá fora, no mundo, a cultura brasileira é muitas vezes desvalorizada, invisibilizada, como se fôssemos apenas um país de festas, carnavais e “pão e circo”. Como se pudéssemos nos contentar com migalhas. Mas não podemos. Não deveríamos. Porque somos muito mais do que isso.


E então, ontem, algo aconteceu. Fernanda Torres, uma mulher que carrega em sua essência a alma do Brasil e genealogicamente o legado da arte brasileira, tornou-se a primeira atriz brasileira a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em um Drama. Um prêmio inédito, um momento que tirou o fôlego de todos nós. Não foi apenas a vitória da senhora. Foi a vitória de um povo que insiste em existir, criar e resistir. Um povo que, apesar de tantas desigualdades e cicatrizes, não desiste de lutar, de sonhar e de se afirmar no mundo.


Esse prêmio nos diz muito mais do que as palavras podem dizer. Ele grita que o Brasil não aceita mais ser marginalizado. Ele nos lembra que a arte e a cultura são tão essenciais quanto a água que bebemos e o pão que nos alimenta. Elas nos humanizam, nos tornam vivos. São um direito, não um luxo.


Ontem, quando vi a Fernanda receber esse reconhecimento, senti algo que não consigo descrever sem lágrimas nos olhos. Senti que, mesmo em meio às nossas muitas batalhas por questões essenciais, não podemos deixar de lutar pela arte, por aquilo que faz nosso coração bater mais forte.


E se há uma coisa que o Brasil nos ensina todos os dias é que migalhas nunca serão suficientes. Somos grandes demais, criativos demais, vivos demais para nos contentarmos com o mínimo. Lutamos por tudo. Pelo básico, sim. Mas também pelo extraordinário. Porque cada pessoa merece não apenas sobreviver, mas viver plenamente, com dignidade, com orgulho, com brilho nos olhos - e com acesso a tudo o que lhe pertence por direito. Precisamos “democratizar a arte” (ODS 19).


Fernanda Torres nos lembrou ontem, 5 de janeiro de 2025, que somos uma potência. Que nosso povo merece o mundo. E que, juntos, não vamos parar até conquistá-lo.



Texto: Claudia Andrade

@cauvic2





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