Nações divididas antes da semana decisiva para as emissões do transporte marítimo 05/04/2025
- Ana Cunha-Busch
- 4 de abr.
- 3 min de leitura

Por AFP -Agence France Presse
Nações divididas antes da semana decisiva para as emissões do transporte marítimo
Pol-Malo LE BRIS
Os membros da Organização Marítima Internacional (IMO) estão divididos quanto à aprovação de um imposto de carbono sobre o transporte marítimo internacional, antes de uma reunião que começa na segunda-feira para finalizar as medidas de redução de emissões.
O imposto sobre o carbono, a medida mais ambiciosa em pauta, tornaria mais caro para as empresas de transporte marítimo a emissão de gases de efeito estufa, incentivando-as a reduzir as emissões.
Mas alguns Estados membros, incluindo a China e o Brasil, estão propondo outras medidas, argumentando que a taxa de carbono aumentaria o custo dos produtos e contribuiria para a insegurança alimentar.
A OMI espera chegar a um acordo inicial até sexta-feira da próxima semana sobre o mecanismo a ser adotado para ajudar a alcançar a neutralidade de carbono no transporte marítimo até 2050.
Os riscos são altos, pois o transporte marítimo é responsável por quase três por cento das emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com a OMI.
“É difícil dizer o que acontecerá na próxima semana”, disse à AFP Fanny Pointet, gerente de transporte sustentável do grupo de defesa europeu Transport and Environment.
Os Estados Unidos têm se mantido notavelmente calados sobre a questão, não tendo feito comentários desde que o presidente Donald Trump retornou à Casa Branca.
Os estados insulares do Pacífico e do Caribe estão liderando o grupo que pressiona por um imposto sobre o carbono, com o apoio de outros países, incluindo o Reino Unido.
Eles argumentam que os fundos arrecadados com um imposto poderiam ser redistribuídos para as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas para ajudar na adaptação e mitigação de seus efeitos.
“As mudanças climáticas são uma realidade aterrorizante para o meu país”, disse Albon Ishoda, representante das Ilhas Marshall na OMI.
- 'Aterrorizante realidade vivida'
No entanto, cerca de 15 países se opõem fortemente à taxa de carbono, argumentando que ela exacerbaria as desigualdades entre as nações e aumentaria os custos de produtos como óleo de palma, cereais e milho.
Também estão aumentando as preocupações de que a União Europeia, que já apoiou o imposto sobre o carbono, poderia diluir a medida em favor de um sistema de crédito de carbono.
Esse sistema permitiria que empresas ou países comprassem e vendessem créditos que representassem o direito de emitir uma determinada quantidade de dióxido de carbono.
De acordo com a pesquisa da University College London, a opção de não cobrar imposto representa o maior risco para o cumprimento das metas climáticas do setor de transporte marítimo.
Os pesquisadores disseram que isso também poderia distorcer os preços dos combustíveis e criar um campo de jogo desigual, favorecendo estados com políticas industriais fortes, como a China.
“A transição energética mais rápida e mais barata é provocada por uma taxa forte”, combinada com um padrão global de combustível para reduzir a intensidade de carbono dos combustíveis usados pelos navios, acrescentaram.
O sistema de padrão de combustível também apresenta desafios, especialmente o risco de uso de combustíveis alternativos, como óleo de palma e óleo de soja, que contribuem indiretamente para as emissões por meio do desmatamento, explicou Pointet.
Embora o Brasil defenda o papel fundamental desses biocombustíveis, mais de 60 ONGs de proteção ambiental levantaram objeções à sua inclusão no futuro mix de combustíveis para o transporte marítimo.
Outras possíveis soluções incluem combustíveis sintéticos à base de hidrogênio, cuja produção é atualmente muito cara, ou a instalação de sistemas de propulsão eólica a bordo dos navios.
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