Por AFP - Agence France Presse
'Eu arranco meus cílios para aliviar a dor': Doença ocular aflige a Etiópia.
Dylan Garmba
Scheicho Scheifa é assombrado pelo medo de ficar cego.
Uma doença chamada tracoma virou suas pálpebras para dentro, fazendo com que seus cílios deixassem cicatrizes em suas córneas tão graves que uma delas já se tornou opaca.
O fazendeiro e padeiro de 35 anos, que pisca com frequência e sofre com a luz do sol, disse que a dor é tão forte que agora ele “parou de trabalhar completamente”.
Na maior parte do tempo, ele fica preso em sua casa no pequeno vilarejo de Asano, a cerca de 100 quilômetros (60 milhas) da capital da Etiópia, Adis Abeba.
“Recentemente, fiquei sabendo que a superfície do meu olho está lesionada e que meu olho esquerdo está gravemente danificado. A dor afeta minha capacidade de trabalhar e realizar tarefas diárias”, disse o pai de dois filhos à AFP.
“Toda vez que o problema se manifesta, eu arranco meus cílios para aliviar a dor”, acrescentou.
“O medo de ficar cego me preocupa sempre que a dor bate.”
O tracoma é causado pela infecção com a bactéria Chlamydia trachomatis, que é transmitida pelo contato com os olhos ou o nariz de pessoas infectadas.
As moscas que tocaram os olhos ou o nariz de pessoas infectadas também podem transmitir a doença.
- Dois milhões de cegos
As mulheres ficam cegas até quatro vezes mais do que os homens - geralmente entre 30 e 40 anos de idade - provavelmente porque estão em contato mais regular com crianças, o principal reservatório da doença.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tracoma é “hiperendêmico em muitas das áreas mais pobres e rurais” do mundo, e a África é o continente mais afetado.
Cerca de 103 milhões de pessoas em todo o mundo vivem em áreas endêmicas de tracoma, quase metade delas na Etiópia.
Apesar de sofrer com a dor desde a infância, Scheicho estava inicialmente relutante em se submeter à cirurgia - que envolve o corte das pálpebras e a rotação dos cílios para longe da córnea - pois ela não havia melhorado a condição de sua mãe.
Finalmente, ele foi convencido por Gizachew Abebe, um oftalmologista e membro da Christian Blind Mission, uma organização beneficente com sede na Alemanha.
A ONG procurou informar “a comunidade e os pacientes para que cuidassem de sua higiene... um ponto muito importante para prevenir o tracoma”, disse Gizachew.
“Os senhores precisam lavar o rosto com água limpa”, disse ele a uma reunião de dezenas de pessoas em um pequeno vilarejo perto de Asano.
Isso não é fácil para essa comunidade rural, que faz uma caminhada de três horas até o rio mais próximo e compartilha a água com o gado.
- 'Difícil de cortar'
A instituição de caridade está trabalhando para melhorar o acesso à água potável e usa alto-falantes nos mercados de Butajira, a maior cidade da região, para incentivar as pessoas a fazer o teste de tracoma.
Os casos menos avançados podem ser tratados com antibióticos ou cremes, mas os casos mais graves, como o de Scheicho, exigem cirurgia.
Ele foi finalmente operado em um pequeno centro de saúde sem eletricidade em Asano durante a visita da AFP.
Depois de administrar um anestésico local, a irmã Tadelech fez uma incisão em sua pálpebra superior.
“É difícil de cortar”, disse o oftalmologista.
Mas meia hora depois, a operação foi concluída.
“Estou me sentindo melhor”, disse Scheicho, grogue, após a operação.
No final do ano passado, 21 países, incluindo Togo e Gana, haviam eliminado o tracoma como um problema de saúde pública, de acordo com a OMS.
Na Etiópia, talvez seja possível minimizar a doença, mas “não vamos erradicá-la” até que “o padrão de vida das pessoas” melhore, disse Gizachew.
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