![Foto arquivo pessoal de Luisa, área alagada.](https://static.wixstatic.com/media/a63056_07c3367d0ab645929b7613a87aca0b00~mv2.jpg/v1/fill/w_768,h_432,al_c,q_80,enc_auto/a63056_07c3367d0ab645929b7613a87aca0b00~mv2.jpg)
E se o clima for pro brejo? OPINIÃO
As zonas úmidas e seu papel na regulação de umidade em volta das cidades
A Mata Atlântica está entre as 25 áreas no planeta reconhecidas como “hotspots”, ou seja, uma região com elevada diversidade de espécies. Mas o que pouca gente sabe é que dentro da floresta tem outras paisagens, como é o caso das restingas, manguezais e também áreas alagadas. Alagados ocupam mais de um quinto da superfície da floresta tropical em nosso país. Assim, pântano, charco, brejo, turfeira, mata paludosa, zonas úmidas, humedales (em espanhol) ou wetlands (inglês): todos esses nomes se referem ao brejo, ambiente que abrigou e ainda abriga muitos dos povos indígenas do nosso litoral, oferecendo-lhes alimento abundante e proteção em suas várzeas. Nas palavras de Alberto Lamego: São as águas rasas das lagoas que os impelem à construção de aldeias lacustres. A aldeia lacustre com o alimento ao redor, infunde e aviva-lhes [...]. São por assim dizer os “povos anfíbios” que habitam estas zonas. Os brejos apesar de pejorativamente assinalados como “lugares insalubres” e muitas vezes negligenciados, são verdadeiras várzeas de floresta encharcada e cheia de vida presentes nos terrenos mais baixos sujeitos a variação de suas águas conforme a estação do ano.
A primeira grande Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional aconteceu em 1971 na cidade de Ramsar, no Irã, atualmente mais conhecida como a Convenção de Ramsar. Do ponto de vista dos acordos globais firmados são consideradas áreas úmidas toda a extensão de pântanos, charcos e turfas, várzeas, rios, pantanais, estuários, manguezais e até os recifes de coral.
Desde sua adesão à Convenção, o Brasil promoveu a inclusão de vinte e sete Sítios Ramsar. Dentre estes na Mata Atlântica litorânea podemos destacar a APA Cananéia Iguape, em Peruíbe, no sul de São Paulo e a APA Guaratuba, no litoral do Paraná.
As áreas úmidas são ambientes de importância ecológica e ambiental.
Apresentam uma flora e fauna muito particular, atuam na recarga do lençol freático subterrâneo, contribuindo para manutenção dos estoques de água, melhoram a qualidade da água, controlam enchentes, e é claro regulam a temperatura e clima, que se torna mais fresco. As áreas úmidas são ainda provedoras de serviços ambientais indispensáveis para a produção de alimentos e a sociedade como um todo.
Nas áreas urbanas e periurbanas os brejos enquanto zonas úmidas sofrem as mais diversas pressões. Ainda que cientes da importância geoecológica e do valor social, econômico, cultural e científico de tais áreas úmidas, nas cidades a prática é que esses locais seguem esquecidos. A supressão de sua vegetação contribui para a redução da disponibilidade hídrica por evaporação. A contaminação silenciosa das águas subterrâneas preocupa e se agrava cada vez mais. A especulação imobiliária a vê como potencial área de aterro e expansão urbana. Soterrados, os brejos produzem calor da matéria orgânica sepultada e o ambiente se torna ainda mais quente. Ambientes de brejo não raro são pouco estudados, e sua rica biodiversidade corre o risco de ser perdida para sempre. Assim, nos centros urbanos os poucos fragmentos que ainda restam de brejos da região costeira devem ser áreas prioritárias a conservar.
Naquelas águas escuras, cor de chá mate, ricas em nutrientes pela decomposição da vegetação a sua volta uma intrincada rede de vida a habita, sejam plantas flutuantes, insetos aquáticos, pererecas, jacarés, peixes sem dizer nas inúmeras aves e pequenos mamíferos visitantes. Assim, estudiosos apontam esses ambientes como áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.
Em tempos de emergência climática, de intempéries como incêndios e seca, as áreas úmidas podem muito bem funcionar como reguladores de calor. Cidades precisam ser mais permeáveis. A expectativa é que para mitigar os efeitos climáticos o poder público trabalhe na criação de parques que retenham mais água. Então é aí que as zonas úmidas entram em cena. São elas esponjas espraiando as águas das chuvas e devolvendo-a pouco a pouco ao solo. E não é lindo tudo isso? Que o alagado possa ser uma solução climática?
Vamos cuidar do clima no brejo!
Saudações!
Luisa Maria Sarmento-Soares
UFES e Instituto Nossos Riachos. Niterói- RJ. sarmento.soares@gmail.com
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