Por AFP - Agence France Presse
Ativistas climáticos defendem 'gerações futuras', diz advogado de apelação
Clara LALANNE
Dezesseis ativistas climáticos britânicos presos por seus protestos de alto nível agiram pelas “gerações futuras” e deveriam ter suas sentenças de prisão reduzidas, argumentaram advogados na quarta-feira.
Descrevendo as sentenças de 15 meses a cinco anos como “as mais altas do gênero na história britânica moderna”, o advogado Danny Friedman disse ao Tribunal de Apelação de Londres que os ativistas “fizeram o que fizeram por sacrifício” e estavam agindo no “melhor interesse do público, do planeta e das gerações futuras”.
A audiência está sendo acompanhada de perto em meio a temores de que protestos pacíficos corram o risco de serem sufocados no Reino Unido.
Em outro caso, no sudoeste da Inglaterra, dois outros manifestantes negaram acusações sobre uma ação no monumento pré-histórico Stonehenge no ano passado.
O grupo de campanha climática Just Stop Oil afirmou que os 16 manifestantes que apelaram contra suas sentenças eram “prisioneiros políticos”.
“Eles não estão lá porque incomodaram ou prejudicaram pessoas comuns... Não, eles estão lá porque o Just Stop Oil ameaça os lucros da indústria de combustíveis fósseis”, disse o grupo.
- Sopa, tinta laranja
O Just Stop Oil (JSO) lançou protestos de alto nível desde que foi formado em 2022 para combater o uso de combustíveis fósseis, que, segundo os cientistas, estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Os 16 ativistas, incluindo alguns que jogaram sopa de tomate na pintura “Girassóis”, de Vincent van Gogh, na National Gallery de Londres, estão tentando reduzir ou anular as sentenças impostas por quatro protestos separados.
Do lado de fora do tribunal, dezenas de simpatizantes ergueram faixas pedindo ao tribunal que “Proteja o direito de protestar” e “Liberte os presos políticos”. Outros se sentaram no chão segurando fotos das pessoas presas.
Os dois ativistas acusados de jogar tinta em pó laranja sobre os megálitos de Stonehenge se declararam inocentes quando compareceram ao Salisbury Crown Court.
Eles serão julgados em setembro por duas acusações de danificar um monumento antigo protegido e de causar incômodo público de forma intencional ou imprudente.
No tribunal de Londres, cinco outras pessoas estão apelando contra sentenças de prisão impostas após terem sido condenadas por conspiração para causar incômodo público ao planejarem bloquear uma rodovia do Reino Unido durante uma chamada on-line.
As ONGs ambientais Greenpeace e Friends of the Earth se juntaram ao que chamam de “um desafio legal de importância crítica sobre o direito de protestar”.
Na quinta-feira, uma coalizão de organizações climáticas e pró-palestinas planeja mobilizar centenas de pessoas para bloquear a estrada do lado de fora do tribunal de apelação em apoio aos ativistas.
Os protestos contra o clima não pararam, apesar das duras sentenças de prisão.
Na terça-feira, a polícia prendeu dois ativistas da Just Stop Oil por interromperem uma encenação londrina da peça “A Tempestade”, de Shakespeare, estrelada pela atriz de Hollywood Sigourney Weaver.
Os dois foram acusados de invasão agravada na terça-feira e comparecerão ao tribunal no próximo mês, informou a polícia na quarta-feira.
Também na quarta-feira, um grupo da Extinction Rebellion interrompeu uma conferência de uma companhia de seguros em Londres.
As ações dos ativistas foram condenadas por políticos e pela polícia e provocaram uma reação negativa em alguns setores do público.
Em julho, cinco dos 16 ativistas que recorreram foram surpreendidos após serem condenados a penas de quatro a cinco anos de prisão por planejarem bloquear a rodovia M25 ao redor de Londres, uma importante ligação de transporte para a capital.
Entre eles está Roger Hallam, 58 anos, um dos co-fundadores da JSO e da Extinction Rebellion. Seus quatro co-acusados também foram presos.
“O fato claro é que cada um dos senhores, há algum tempo, cruzou a linha do ativista preocupado para o fanático”, disse o juiz Christopher Hehir, durante a sentença inicial.
- 'Dia negro'
O governo conservador anterior do país adotou uma postura cada vez mais hostil em relação às ações diretas perturbadoras e aprovou uma série de leis que endurecem as punições para tais delitos.
No entanto, a duração das sentenças de prisão chocou as ONGs e os ativistas ambientais.
O Relator Especial das Nações Unidas para os Defensores do Meio Ambiente, Michel Forst, chamou esse de “um dia sombrio para protestos ambientais pacíficos e, na verdade, para qualquer pessoa preocupada com o exercício de suas liberdades fundamentais” na Grã-Bretanha.
A CIVICUS, uma aliança global de organizações da sociedade civil e ativistas, disse que as liberdades civis estão sendo “obstruídas” no Reino Unido.
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