Fabíola Sinimbú - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 08/02/2025 - 08:33
Apenas dez países apresentaram metas climáticas; prazo termina na segunda-feira
Um total de 197 nações assinaram um tratado para reduzir o efeito estufa.
A nove meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, termina nesta segunda-feira (10) o prazo estabelecido no Acordo de Paris para a entrega da terceira geração de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Dos 197 países participantes do tratado, apenas dez atualizaram suas ambições de redução de gases de efeito estufa.
Este ano, o Acordo de Paris, o maior tratado global assinado por líderes para evitar o agravamento dos impactos climáticos e limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius (ºC), completa dez anos. No entanto, as nações falharam nessa ambição. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), para estabilizar os termômetros nesse nível acima da temperatura pré-industrial até 2035, as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas em 57%.
Em janeiro, ao apresentar as prioridades das Nações Unidas para 2025, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que os países deveriam concentrar seus esforços na criação de planos capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 60% até 2035, com metas claras de redução da produção e do consumo de combustíveis fósseis. Ele também destacou o trabalho para impulsionar a ação “em estreita colaboração com o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP30, o presidente Lula do Brasil”.
Compromissos
O Brasil responde atualmente por 2,45% das emissões globais, de acordo com o relatório 2024 do Emissions Database for Global Atmospheric Research (Edgar), e foi o segundo país a atualizar sua NDC, depois dos Emirados Árabes Unidos.
Na nova ambição, o país estabeleceu uma faixa de redução de emissões entre 59% e 67% para 2035, em comparação com 2005. O corte fará com que as emissões líquidas anuais do país passem de 850 milhões de toneladas para 1,05 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), a unidade usada para medir as emissões de gases de efeito estufa quanto ao seu potencial de aquecimento do planeta.
No caso dos Emirados Árabes Unidos, que atualmente respondem por 0,51% (Edgar) das emissões globais, a redução foi menos ambiciosa, com uma meta de corte de 47% para 2035 em relação a 2019, o que levaria o país a um volume anual de 103,5 milhões de toneladas de CO2e.
O terceiro país a apresentar uma NDC foram os Estados Unidos, ainda em 2024, mesmo antes de anunciar sua saída do Acordo de Paris. A contribuição apresentada foi condizente com o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, que hoje responde por 11,25% (Edgar) das emissões globais. A ambição é de uma redução entre 61% e 66% até 2035, em comparação com as medições de 2005.
O Uruguai, que responde por apenas 0,08% das emissões globais, encerrou suas NDCs em 2024, com o compromisso de limitar as emissões de gases de efeito estufa com base em medições de níveis absolutos de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que respondem por 99,3% das emissões do país. Para 2035, o país estabeleceu limites para emissões de CO2 de até 9,6 milhões de toneladas, emissões de CH4 de 818.000 toneladas e emissões de N2O de até 32.000 toneladas; além de limitar o consumo de hidrofluorocarbonos - gases sintéticos encontrados em aerossóis e usados em sistemas de refrigeração - em 30% em comparação com os níveis de 2022.
O país também destacou o progresso adicional que pode ser alcançado com a disponibilidade de condições que vão além do que o Uruguai tem, como o financiamento internacional. Nesse caso, as metas condicionais acrescentariam aos limites mais 960.000 toneladas de CO2, mais 61.000 toneladas de CH4 e mais 2.000 toneladas de N2O; o consumo de hidrofluorcarbono seria limitado em até 35%.
2025
Nos dois primeiros meses deste ano, mais seis países apresentaram suas metas: Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador e Santa Lúcia, que juntos representam apenas 1,1% das emissões globais. Enquanto a Suíça, com 0,08% das emissões globais, almejava uma redução de 65%, o Reino Unido - que responde por 0,72% - foi além e se comprometeu a mitigar 81% das emissões até 2035. Ambos usam as emissões de 1990 como referência.
A Nova Zelândia, que é responsável por 0,16% dos gases na atmosfera, apontou para uma faixa entre 51% e 55% de redução das emissões até 2035, em comparação com 2005. Diferentemente dos demais países que já alcançaram a terceira geração de NDCs, essa foi a segunda atualização de ambição tanto para a Oceania quanto para a Suíça, que haviam apresentado suas primeiras versões em 2021 e 2017, respectivamente.
Andorra apresentou a terceira geração da NDC dentro do prazo e, apesar de ser um local com emissões muito baixas (370.000 toneladas de CO2e em 2005), pretende reduzir suas emissões para 137.000 toneladas de CO2e em 2035, o que representa um compromisso de mitigação de 63%.
Como em Andorra, os gases de efeito estufa gerados em Santa Lúcia não representam uma porcentagem das emissões globais, mas o país insular também atualizou sua NDC em sua terceira versão, aumentando sua ambição de 14,7% para 22% para os setores de energia e transporte até 2035, com base nas medições de 2010. O país também estabeleceu uma meta condicional que poderia aumentar essa porcentagem para 32% se houver recursos disponíveis para a geração de energia geotérmica.
O país também qualificou sua NDC aumentando sua capacidade de capturar gases de efeito estufa, que deve chegar a 251.000 toneladas de CO2e por ano até 2035, o que lhe permitirá remover mais 10% dos gases já emitidos na atmosfera.
O Equador usou o ano de 2010 como referência para apontar uma redução de 7% nas emissões até 2035, o que equivale a 8,8 milhões de toneladas de CO2e. O país, que atualmente responde por 0,14% das emissões globais, também acrescentou uma meta condicional de atingir 8%, o que equivaleria a 10,6 milhões de toneladas de CO2e.
Os dez países, que juntos respondem por 15,3% das emissões globais, reafirmaram seu compromisso de net-zero para 2050, o que significaria atingir a neutralidade entre as emissões e a remoção de gases da atmosfera por meio de medidas de compensação, como a restauração da vegetação nativa e o próprio mercado de carbono.
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