Por AFP - Agence France Presse
A seca no Brasil inflama os preços globais do café.
Facundo FERNÁNDEZ BARRIO
O produtor de café brasileiro Moacir Donizetti primeiro sentiu o cheiro da fumaça e depois assistiu desesperado ao incêndio que consumiu a plantação de café de sua família no ano passado.
O senhor de 54 anos foi um dos centenas de agricultores afetados por um incêndio florestal brutal no estado de São Paulo, onde anos de calor intenso e chuvas irregulares provavelmente aumentarão o custo de um expresso ou latte em lugares tão distantes quanto Paris, Nova York ou Tóquio.
O Brasil, o maior produtor e exportador de café do mundo, teve seu ano mais quente já registrado em 2024 e um número recorde de incêndios florestais.
Os moradores do município de Caconde acreditam que o incêndio começou devido à queima descontrolada de lixo, mas os especialistas atribuem sua escala às condições de seca exacerbadas pelas mudanças climáticas.
“Foi desesperador: ver as chamas avançando, destruindo nossa plantação, chegando a vinte metros da minha casa”, disse Donizetti.
Sua família lutou contra o fogo por quatro dias em sua fazenda remota nas montanhas da Mata Atlântica, perdendo cinco hectares de café - um terço da área de produção da família.
Ao lado das plantações de café queimadas e enegrecidas, ele estima que sua terra levará três ou quatro anos para voltar a produzir.
A perda é agravada por vários anos de clima imprevisível e colheitas decepcionantes no Brasil.
“Há cerca de cinco anos o país está muito seco, às vezes não chove por meses”, disse Donizetti. “Também ficou muito mais quente, é insuportável.”
- Investindo mais para produzir menos
Em 2024, o Brasil era responsável por mais de um terço da produção mundial de café.
Uma safra ruim no gigante latino-americano tem um impacto significativo nos preços internacionais.
O café arábica, a variedade mais popular, atingiu seu preço mais alto desde 1977 em dezembro, cotado a US$ 3,48 por libra na Bolsa de Valores de Nova York.
“Trabalho com café há 35 anos e nunca vi uma situação tão difícil como a atual”, disse o cafeicultor e consultor brasileiro Guy Carvalho.
“As altas temperaturas e a irregularidade das chuvas estão nos obrigando a investir mais para produzir o mesmo ou até menos do que produzíamos no passado”, acrescentou.
“Após a última grande colheita em 2020, sempre tivemos algum tipo de problema climático.”
Carvalho disse que os preços altos foram explicados, em grande parte, pela “frustração” com as safras decepcionantes entre 2021 e 2024 e as previsões sombrias para 2025.
Fatores geopolíticos, como possíveis tarifas dos EUA e futuras regulamentações da União Europeia sobre desmatamento, também contribuíram para os preços mais altos.
- Adaptação às mudanças climáticas
Alguns produtores brasileiros de café estão adotando novas estratégias para se adaptar ao clima cada vez mais imprevisível.
Em Divinolândia, outra pequena cidade cafeeira do estado de São Paulo, o produtor Sergio Lange optou pelo café cultivado à sombra - uma técnica antiga usada em lugares como a Etiópia, o berço do café.
O plantio de arbustos de café sob a sombra de árvores protege as plantas do calor excessivo e permite que elas amadureçam mais lentamente, produzindo um grão maior e mais doce, com maior valor de mercado.
Lange e outros 50 colegas vêm aplicando um “modelo de cultivo de café regenerativo” desde 2022, no qual a cultura é plantada junto com outras espécies, cultivada sem pesticidas e depende de uma fonte de água natural das montanhas.
“No início, a produtividade cai, mas esperamos resultados fantásticos em quatro ou cinco anos”, disse ele.
Ele apontou a mudança climática como tendo um impacto “severo” na produção de café.
“Os produtores que não se adaptarem terão dificuldade em permanecer no negócio”, alertou.
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